Broche

Primeiro Kill

    
          No avião, embicado na pista de decolagem, reparo nos meus instrumentos e faço toda a checagem novamente. Nada pode sair errado hoje, é meu primeiro vôo na linha de batalha, o inimigo agora é real e estará ali me querendo, do mesmo jeito que eu o quero, MORTO! Não tenho nada contra ele e nem ele contra mim, mas desta vez será ou ele ou eu, e isso é a guerra. 

          O combate já está em andamento e meus companheiros precisam do meu apoio, posso ver os aviões lutando a uma boa distância de minha base, mas tenho que me apressar, então mais do que decidido, ligo os motores do meu P-38 que obedecem de imediato ao meu comando, tudo pronto, acelero a toda a velocidade e seguro o avião nos freios, sinto-o estremecendo, querendo sair dali e voar, invadir os céus, sinto-o talvez até mais confiante do que eu quanto ao fato de enfrentar a morte. Solto os freios e ele começa a rolar, ganhando velocidade para alcançar os pássaros, começo a pensar na beleza exótica do meu avião, na cauda bipartida e nos dois motores em naceles independentes me deixando só entre eles, eu e suas mortíferas metralhadoras e canhões, “como é que conseguiram desenhar uma coisa tão bonita assim em um pequeno guardanapo?” foi a última coisa que pensei, lembrando que um velho amigo uma vez me contara essa história. Decolamos, eu e meu avião agora somos um só, voando em direção do desconhecido, posso sentir a agonia e a euforia que confundem os meus sentimentos enquanto avisto os aviões aliados e inimigos lutando a minha frente.  

          - “Estou entrando...” disse meio sem jeito no rádio pois ainda não tinha muita intimidade com ele, ao mesmo tempo em que escolhia meu alvo, tinha duas bombas em meu ventre e deveria joga-las no lugar certo.  

          - “Vou pegar os Hangares...”, pensei que era a coisa mais óbvia a se fazer já que eram bem grandes e era meu primeiro vôo em combate real, as probabilidades de um erro eram bem menores.  

          Mergulhei, como me foi instruído, podia sentir meu avião tremendo de tanta velocidade, o ruído dos motores aumentava, eu me concentrava no altímetro, não queria fazer do meu vôo de estréia uma catástrofe memorável. Soltei uma das bombas por volta de 3 mil pés de altitude e puxei o manche para trás com toda a força, velocidade máxima, nariz para cima e lá vamos nós novamente para cima, as metralhadoras antiaéreas estavam caladas, “meus companheiros devem ter feito um bom serviço”, pensei. Leme a direita, inclinando o avião e iniciando o último mergulho, a outra bomba quase não pegou o alvo, “dessa vez vai ser do meu jeito”, confiante nivelei meu avião a mil pés do solo e parti em direção ao outro Hangar, calculei a distância do alvo, inclinei meu avião para baixo e soltei a minha outra bomba, pude ouvir a explosão quase simultânea do meu último alvo, “na mosca!”, me vangloriei de meu ataque. Mas estava muito baixo e tinha que voltar para a base, então comecei uma curva bem aberta para a direita para não perder a velocidade que já era razoavelmente boa.  

          Estremeci quando cruzou minha frente um pequeno mas talvez o mais temido avião de todos, um Zero, ele estava manobrando para abater um de meus colegas, e sem pensar duas vezes puxei o manche com toda a minha força acentuando ao máximo a minha curva que terminou, por sorte, na direção em que o inimigo estava indo. Vendo o inimigo a frente já disparando contra meu companheiro, busquei a melhor colocação possível enquadrando-o em minha mira a umas 300 jardas de distância, puxei o gatilho, o barulho das metralhadoras e canhões atirando juntos contra o inimigo só foi superado pelo som da sua explosão bem em frente do meu avião. Confuso entre alegria e tristeza, horrorizado com a idéia de que eu tinha realmente matado um ser humano, não me contive e invadi o rádio dizendo:  

          -“YEAHHHHHH, CONSEGUI O MEU PRIMEIRO KILL!!!!!!!!!!!!!”  

          E como que compreendendo a minha excitação e euforia, de pronto meus companheiros me responderam:  

          -“ WTG KABA!!!!!!!!!!!!!” 

          -“ FOGO NA JACA!” 
 

          Relato de uma SM vivida pelo 
          2Lt -kaba- do Esquadrão NAJACK 
 

    

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