Broche O Grande Circo
  
    O grande Circo
  

          Ainda continuamos em estado de alerta. Tudo continua tranqüilo no setor de Bigging-Hill e a manhã passa muito lentamente. Debaixo da asas dos Spitfire, úmidas de orvalho, os mecânicos cochilam enrolados em mantas. 

          Faz um tempo infernal. Enquanto numa esquina do estacionamento dos aviões um fonógrafo fanhoso cantarola uma cação já fora de moda, jogamos monopólio distraidamente. 
Toca o telefone. Todos levantam a cabeça, atentamente. 

           -"Early lunch for pilots. There is a show on." ( Almoço mais cedo para os pilotos. Há uma missão prevista_ - grita o ordenança da sua cabina. 
Um sweep muito importante está previsto para a primeira hora da tarde e na cantina dos oficiais prepara-se um almoço especial para os pilotos que tomarão parte nele. 
Mouchotte, prevenido, chega em seguida acompanhado de Boudier. 

          A ordem de batalha do grupo é anunciada depois de alguns minutos de deliberação entre os comandantes de esquadrilha. 
Com. Mouchotte 
Tem. Bouldier  Subten. De Bordas 
Sarg. Remlinger Tem Martell 
Subten Bouguen Sarg. Clostermann 
Sarg. Marquis  Tem. Beraud 
Sarg. Bruno  Sarg. Mathey 
Tem Pabiot  Reserva: Sarg. Gallay 

          Reunião no Intelligence Room ( Sala de informações) às 12:30. Mouchotte va com Martell e Boudier na sua caminhonete Hillman, enquanto os restanters pilotos sobem precipitadamente num caminhão. 

          Almoça rápido com os pilotos da 611 - sopa, salsichas, purê... 

          No entanto, paira no ambiente um pouco de nervosismo. Para a maior parte de nós é a primeira missão importante de guerra, e provavelmente teremos que nos internar muito dentro da zona inimiga. 

          Sinto uma mistura lacerante de curiosidade e de angústia. 

          Quero saber como reagirei frente ao perigo; é um desejo um pouco doentio de conhecer o medo, o verdadeiro medo, o indivíduo só perante a morte. E, no entanto, persiste, apesar de tudo, bem arraigado, o velho ceticismo do civilizado... O velho costume dos estudos, das viagens confortáveis, das humanidades, da vida nas cidades. Tudo isso, pra dizer a verdade, deixa muito pouco lugar à noção do perigo mortal ou à prova da coragem puramente física... 

          Entretanto, desejaria penetrar no fundo do pensamento daquele canadense da 611, para o qual não ;e esta a primeira missão. Pede tranqüilamente a atendente outra porção de purê, enquanto eu mal pude comer a minha. 

          - "Come on chaps, briefing" (Vamos, rapazes, para o briefing). 

          Dirigimo-nos em pequenos grupos silenciosos para o Intelligence Room. 

          Uma primeira sala cheia de fotografias, mapas, poltronas, revistas técnicas, circulares confidenciais do Ministério do Ar. Num canto, uma pequena porta não muito alta pela qual se desce a sala de Briefing. 

          Mal entramos, o seu ambiente surpreende-nos. Primeiro o grande mapa do nosso setor de operações, que cobre todo o painel do fundo, por trás do estrado.. O sudeste da Inglaterra, Londres, o rio Tamisa, o Canal da Mancha, o Mar do Norte, Holanda, Bélgica e França até chebourg. 

          Sobre esse mapa, uma linha vermelha liga Biggin-Hill com Amiens, opor sobre Saint-Pol e volta a Dungness, via Boulogne: o itinerário da nossa missão de hoje. 
 Empurrando-se os pilotos apertam-se nos bancos - sapateando surdo nas botas de vôo, riscar de fosforos; os primeiros cigarros fumegam, agarrados por dedos nervosos... 

          No teto estão pendurados os modelos dos aviões aliados e alemães. 
 Sobre as paredes vêem-se presas com alfinetes fotografias dos aviões Focke Wulf e Messeschmitt 109, observados de todos os ângulos, com diagramas indicando as correções de tiro correspondentes. 

          Por todos os lados encontram-se afixadas as principais instruções de combate: 

 - O BOCHE ESTÁ SEMPRE "NO SOL". 
 - ESPERA PARA ATIRAR ATÉ VERES O BRANCO DOS OLHOS. 
 - NUNCA PERSIGAS UM AVIÃO QUE TENHAS ATINGIDO. SE O FIZERES, 
   OUTRO TE DERRUBARÁ 
   COM CERTEZA. 
 - ATENÇÃO! AQUELE QUE NÃO VISTE É O QUE TE VAI DERRUBAR. 
 - NUNCA PENSES NA TUA NAMORADA, SE NÃO VIRES CHEGAR O FOCKE  
   WULF QUE DERRUBARÁ O TEU CAMARADA, SERÁS UM CRIMINOSO. 
 - SILÊNCIO NO RÁDIO. NÃO OBSTRUA AS FREQUÊNCIAS. 
 - SE TE DERRUBADO EM TERRITÓRIO INIMIGO, FOGE. MAS SE CAIS  
   PRISIONEIRO, CALA-TE. 

          Os uniformes azul-marinho dos franceses destaca-se sobre a massa cinzenta dos uniformes de combate ingleses e canadenses; mas todos os corações batem fraternalmente. 

          Lá fora se ouvem os ruidos de portas se fechando com forç... Algazarra. Todos se põe de pé. 

          O group capitain Malan e os wing commanders Al Deere e De La Torre entram, seguidos de Mouchotte e Jack Charles, o comandante da 611. 

          Mallan encosta-se à parede, a um canto; De La Torre e Deere sobem ao estrado. 
          - " Sit down chaps ! "(Sentem-se!) 

          Silêncio. De La Torre toma a palavra e lê a circular D com sua voz monótona: 
 "Esta tarde a esquadrilha participa do Circus 97. A hora H é 13:55. 
 72 Fortalezas voadoras bombardearão o aeródrome de Amiens Glisy. A 5.000 metros, a escolta será constiruida por 18 grupos de Spitfire V. 

          O Wing (Grupo aéreo) de Kneley efetuará o apoio avançado e operará a 6.500 metros na região do objetivo na hora H menos 5 minutos; isto é, às 13:50. 

          A proteção ligeira será assegurada pelos 24 Spitfire IX de West Malling e duas esquadrilhas de Northolt-Spitfire IX, voando a 9.500 metros, cobrirão a operação. 

          Estão previstas duas operações de diversão: 
          12 Typhoon, escoltados por 36 Spitfire, bombardearão, na hora H menos 10 minutos, os molhes de Dunquerque, depois de simular que se dirigem a Gravalines. 

          Estas diversões ser~so para distrais a radiolocalização alemã e dispersar, pelo menos assim o esperamos, os esforços dos caças inimigos. 

          O wing de Biggin-Hill deverá operar na região de Amiens a partir da hora H mais 5 minutos, ou seja, às 14:00 a fim de cobrir a retirada das fortalezas até às 14:10. 

          A ordem de batalha da Luftwaffe, tal como supomos para esta operação é a seguinte: 
 60 Focke Wulf disponíveis em Glisy. 

          120 Messerschmitt 109 f e fw-190 em Saint-Omer e Fort Rouge. 
 Os 40 FW-190 de Poix, alertados pelos Typhoon, serão sem dúvida os primeiros a intervir sobre Amiens, mas quando vocês chegarem eles já terã tido que lutar com a escolta propriamente dita." 

          - Cedo a palavra ao wing commander Deere, pois será ele quem dirigirá a operação. 

          Com voz tranqüila e repousada, que contrasta com sua face de rapaz brigão e casmurro, Al Deere nos dá então as últimas instruções de Vôo.  

          "Dirigirei a 611, cuja contra-senha será Gimlett. A minha contra-senha pessoal será Brutus. 
 René Mouchott conduzirá a 342; contra-senha: Turban. 

          Motores em marcha às 13:25 Descreverei um amplo circulo sobre o aeródromo para que entreis bem em posição e às 13:32 partirei na direção prevista. 

          Permaneceremos a zero pés até às 13:50, depois nos elevaremos a um mínimo de 3.300 metros e nos reuniremos sobre Amiens, se tudo correr bem, a 8.000 metros. 

          Uma vez sobre Amiens, daremos uma guinada de 90º  à esquerda e seguiremos a 47º durante 5 minutos. Em princípio voaremos 25 minutos com a gasolina dos nossos depósitos suplementares. Quando der sinal de largar: "Drop your babies" vamos formar em ordem de combate. 

          Até este sinal, é obrigatório guardar um silêncio absoluto nos rádios. Voaremos razando a água durante 18 desagradáveis minutos, para não sermos descobertos pela radiolocalização dos boches.  

          Agora mais uns conselhos úteis: 
          Se o depósito suplementar não se desprender ao sinal, informem ao chefe da patrulha e regressem. Se continuarem, prejudicarão todos os restantes e certamente serão derrubados. 

          Assinalem claramente a posição dos aviões suspeitos. Se houver combate, formem em bloco, e se tudo correr mal, sigam pelo menos aos pares; é essencial. 

          Atenção ao oxigênio. 

          O rumo de regresso direto, no caso de surgir algum contratempo, é 317º. Se vocês se perderem em algum lugar da França e tiverem pouca gasolina, chamem Zona na frequencia B. Quande se encontrarem no meio do canal, se se virem em dificuldades, mas em condições de chegar a base, avisem Tramiline na frequência ª Se não puderem alcançar a costa, saltem de pára-quedas depois de Ter chamado Mayday na frequência D. Como sempre, todo o possível vão fazer para recolher vocês rapidamente. 

          Esvaziem totalmente os bolsos. Acertemos nossos relógios: São exatamente 12:51:30. Um, dois três: São 12:52:00. 

          Bem estejam alertas. Boa sorte e boa caçada." 

          Enquanto Deere falava, os pilotos anotavam as indicações essenciais na palma da mão esquerda, sobre a própria pele: Horários, rota de regresso, freqüência de rádio, etc. 

          Na placa de estacionamento dos aviões cada um corre para o seu armário pessoal. 

          Esvazio cuidadosamente os meus bolsos; não devemos deixar neles passagens de ônibus, detalhes, nem envelopes com sinais que possam informar os boches sobre a localização dos nosso aeródromo. 

          Tiro o colarinho e a gravata e substituo por um lenço de seda. 

          Visto o espesso pulôver regulamentar de lã branca sobre um colete de pele de cordeiro. Por cima das meias comuns ponho umas compridas meias de lã que atingem a metade das pernas; sobre as calças e por ciam de tudo isso, as botas, enfiando na da direita a faca de mato e na da esquerda os mapas. Carrego o revolver, cuja correia passo em torno do pescoço. Nos bolsos da Mae-West tenho o meu pacote de emergência (que contém dinheiro francês, belga e hoklandês, para um caso extremo) e a minha caixa de viveres. 

          O mecânico vem buscar o meu para-quedas e o dighy (barco de borracha de salvamento) para colocá-lo sob o assento do avião. 

          13:15 
          Já estou instalado, ligado fortemente ao meu Spitfire NL-B pelas tiras do cinturão de segurança. Texto o rádio, o colimador e a câmara automática para fotografar os tiros. Tenho a máscara de oxigênio bem ajustada e comprovo a pressão das garrafas. Nervosamente, armo os canhões e as metralhadoras e ajusto o espelho retrovisor. 

          O meu mecânico dá a volta em trono do avião com uma chave de fenda na mão, fechando fortemente todas as tampas móveis. 

          Sinto um estranho vazio no estômago e tenho pena e Ter comido tão pouco. 

          Há muito movimento em torno do terreno. Os bombeiros se instalam nos estribos da autobomba e os enfermeiros na ambulância. 

          A hora se aproxima. 

          13:19 
          Um grande silêncio paira agora sobre o aeródromo, muito calmo. Os pilotos tem os olhos cravados em Mouchotte, que consulta o seu relógio. 

          Uma fivela do meu para-quedas, mal colocada, incomoda horivelmente, mas é demasiado tarde para coloca-la no lugar. 

           13:20 
          Mouchotte dá uma olhada em volta sobre os 12 spitfire. Baixo febrilmente os contatos. 

          - "All clear? Switches on!" 

          Certo como um relógio, o meu Rolls-Royce arranca na primeira tentativa. 

          13:22 
          Os motores da 611 estão emmarcha e os 12 Spitfire começam a alinhar-se ao redor do de Deere. Ocupo o meu lugar, asa com asa, com Martell. 

          13:25 
          Um foguete branco sai da torre de controle e os 13 aviões da 611 começam a avançar. 

          Mouchotte levanta a mão enluvada e abre o combustível lentamente. 

          Com os olhos fixos na ponta da asa de Martell, com a mão suada, faço o mesmo... Decolamos. 

          Passamos como um furacão sobre a estrada que corre ao longo da base. Um ônibus está parado e vêem-se passageiros nas janelas. 

          Os Spitfire avançam em direção ao sul rente às árvores e às casas, com um rugido de trovão que faz as pessoas pararem bruscamente. Passamos sobre uma colina arborizada e imediatamente estamos em cima do mar, com as ondas sujas coroadas de espuma, e o Promotório de Beachy Head dominando à esquerda... 

          Uma linha azul de bruma no horizonte; é a França; e a 2 ou três metros acima da água vamos ao encontro dela. 

          13:50 
          De um só impulso, os 24 Spitefire elevam-se no céu, como que pendurados nas suas hélices, subindo 1000 metros por minuto. 

          Aqui está a França! Uma linha de falésias brancas emerge do meio da bruma e, à medida que subimos, o horizonte recua... O estuário do Somme, a estreita faixa de areia ao pé dos alcantilados, coroados de verdura, os primeiros prados, a primeira aldeia, escondida nun vale junto a um bosque... 

          5.000 metros. 

          O meu motor falha de repente e o Spitfire perde Altura! 

          Sem respiração, com o coração nos dentes, reajo instintivamente e me apresso em abrir os depósitos principais de gasolina. Há um segundo de indecisão; finalmente, acende-se a faísca e o motor volta a funcionar. A toda a frça, reuno-me a minha esquadrilha. 

          -"Brutus aircraft, drop yor babies!" 

          A voz clara de Al Deere soa nos fones. Ordena que larguemos os depósitos auxiliares. 

          Estamos, aproximadamente a 9.000 metros. 

          Passam-se cinco minutos. 

          O Céu, sem uma nuvem é de uma limpidez assombrosa. Vislumbra-se a terra da França debaixo de uma camada translúcida de bruma, que se faz mais espessa por cima das cidades. O frio é intenso e respiro mal. Sente-se o sol, mas não osso discernir se os seus raios queimam ou gelam. Pra sacudir o meu torpor, abro o oxigênio a toda força... 

          O Ruído estridente do motor aumenta a estranha sensação de isolamento que se sente num avião de caça de um só lugar, mas, com o tempo, deixa de ser um ruído ensurdecedor. Pouco a pouco converte-se numa espécie de pano de fundo sonoro, mas neutro, que acabamos por assimilar a um grande silêncio estranho, pesado e denso. 

          Que irreal e independente é isso tudo! 

          - Isso é guerra? 

          - "Look out Brutos Leader, ?Grass Seed calling. Three gagles of 20 plus converging towards yow, above!" (Atenção, Brutos, Grass Seed chama. Tês grupos de 20 boches convergem sobre vocês.) 

          A voz de Holmes sobressalta-se... e eis que Martell intervém: 

          - Lock out, Brutus, Yellow one cdalling, smoke trails coming 3 o'clock!" ( Atenção, Brutus, Yellow one chama. Rastros de condensação chegam pelas 3 horas). 

          Arregalo os olhos e de repente vejo os rastros de condensação que traem os boches e que começam a convergir sobre nós pelo sul e pelo leste... 

          Meu deus, que se aproximem depressa! Tiro a trava de segurança dos canhões. 

          - "Brutus, calling, Keep your eyes on them, chaps! Cliembing lick hell!" (Brutus chamando. Não os percam de vista e subam a toda velocidade!). 

          Empurro a alavanca do combustível e, com a hélice no máximo de rotações, me aproximo instintivamente do Spitfire de Martell. 

          - Brutus Calling, open your eys ando prepare to break port. The bastards are right above!" (Brutos chama. Abram os seus olhos e preparem-se para virar a esquerda. Os safados estão exatamente em cima!). 

          Mil metros acima das nossas cabeças, começa a tecer-se uma tênue renda e já se vêem as esguias silhuetas cruciformes dos caças alemães. 

          Ai estão os boches! 

          Sinto-me fascinado; fico com um nó na garganta. 

          - "Turban, break starboard" (Turban, vire a direita.) 

          Boudier transmite, com um berro, a ordem de virar. 

          De repente vejo surgir à minha frente as divisas do Spitfire de Martell. Balanço o meu avião com todas as minhas forças, acelero ao máximo e fico na sua esteira. 

          Onde setão os boches? Não me atrevo a olhar pra trás e viro desesperadamente, colado ao meu assento pela força centrífuga, com os olhos fixos em Martell, que vira 100 metros diante de mim. 

          - "Gimlet, attack port" (Gimlet, ataque pela esquerda.) 

          Perco-me neste barulho. 

          - "Turban Yellow Two breack!" 

          Ÿellow Two" ? Mas sou eu! 

          Com um furioso pontapé no pedal separo o meu spitfire da formação e uma náusea de medo me sobe a boca. 

          Uns rastros vermelhos desfilam bailando em frente ao meu pára-brisa... 

          O meu primeiro boche! Identifico-o É um Focke Wulf 190! Como o estudei nas fotografias sob todos os ângulos! 

          Depois de lançar sobre mim uma rajada de balas, dirije-se para Martell. 

          Sim, é um deles! As asas curtas, o motor em forma de estrela, a comprida carlinga feita de uma peça os estabilizadores conrtados em ângulo reto. Mas na fortografia faltava a vibração das cores: o ventre amarelo-pálido, o dorso cinzento esverdeado, as grandes cruzes pretas sublinhadas a branco.. As fotografias não podiam reproduzir o estremecimento das asas, a silhueta alongada, refinada pela velocidade, a tremenda inclinação do vôo em picada... 

          - "Look out... Atention... Break!" 

          Os gritos entrecruzam-se nos fones. Gostaria de compreender, captar uma ordem, um conselho... 

          Um Focke Wulf na minha direção. Atenção! Brigar com ele! 

          Uma brusca meia volta e, sem saber como, encontro-me de boca pra cima, com o dedo no gatilho, sacudido até a medula dos ossos pelo rugido dos meus canhões que cospem breves labaredas. 

          Todo o meu ser, todas as minhas forças se concetram num único pensamento: TENHO QUE MANTE-LO NO MEU COLIMADOR! 

          E a correção de tiro? Não é suficiente! Tenho que fazer uma volta mais fechada! Ainda mais... mais... mais!... 
É inútil. Ele passou, mas o meu dedo continua apertando convulsivamente o gatilho... Disparo no vácuo. 

          Onde está? Desconcerto-me. Cuidado! O BOCHE QUE NÃO VISTE É O QUE TE DERRUBARÁ! 

          As pulsações do meu coração repercutem no meu ventre, nas minhas frontes banhadas de suor, nas minhas pernas... 

          Ali está ele outra vez, já longe; lança-se em picada... Disparo... Falhei!  Está fora de alcançe. Insisto, com raiva... Um última rajada... O meu Spitfire vibra, mas o Focke Wulf é mais rápido e desaparece entre as brumas, ileso. 

          O céu esvaziou-se de repente... Nem um avião... como por encanto. Estou completamente só. Dou uma olhada na gasolina: 160 litros... Tenho de regressar. 

          Rumo a Inglaterra. 

          Um quarto de hora mais tarde vôo sobre as areias amarelas de Dungness. 

          Chego ao campo de Binggin-Hill. Por todos os lados, no céu, há Spitfires, com o trem de pouso decido. 

          Introduzo-me entre duas seções e pouso. Enquanto me dirijo à placa de estacionamento, vejo o mecânico com os braços levantados, fazendo sinais para me indicar o lugar onde devo colocar-me. 

          Corto a alimentação da gasolina e o contato. 

          O Silêncio é agora desconcertante o fato de poder ouvir vozes não deformadas pelo rádio produz uma estranha sensação. 

          Salto para a terra com as pernas fracas, anquilosadas. Martell aproxima-se a grande passadas e me agarra pelo pescoço. 

          - Ora, aqui está o meu pequeno Clocló! Julgavamos que te tinham matado! 

          Realizei o meu primeiro sweep sobre a frança e regressei. 

          A tarde, na cantina dos oficiais, estou mais orgulhoso que um rei. 

Condensado de : Clostermann, Pierre - Le grand Cirque, Librarie Ernest Flammarion, Paris - 1948 
  

  

     
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